11 de agosto de 2009

SOBRE O PORTUGUÊS E O MEC

Pensámos estar perdido, nós o que crescemos e aprendemos com as suas crónicas, bem mais educativas do que o penoso estudo das orações em cima dos Lusíadas (invenção genial que terá feito - espero- arder num espeto para a eternidade o seu pedagógico inventor...). Mas aos poucos, com as suas mini-crónicas, o M.E.C. tem demonstrado estar de volta. Ainda bem para nós.
Um dos exemplos foi esta crónica que copio do Ciberdúvidas e que reproduzo com a devida vénia (uma vez que o Público fez o favor de se adiantar e pagar o autor):

"ESPARGATA ESPARGUETA
Queria escrever esparregata mas o único dicionário que tinha à mão, o da Academia [das Ciências de Lisboa], não me deixava. Telefonei a um ginasta amigo que me explicou que "esparregata" era só para o caso especial em que se escorrega num bocado de esparregado. Para todas as outras ocorrências, envolvendo espargos ou não, é espargata que se deve escrever.

Mas também não vinha espargata. Como sempre, foi o Ciberdúvidas que salvou o dia. Encontrou-a, mas só num dicionário, no melhor de todos: o Grande da Porto Editora (o meu anda escondido nalgum caixote, a rir-se baixinho). Carlos Rocha adianta que «nem o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, nem o Silveira Bueno explicam a origem deste substantivo feminino».

No blogue Língua à Portuguesa, Sara Leite propõe fundar um clube-de-otários-que-andaram-metade-da-vida-a-dizer-esparregata. Adiro já. Mas também não encontrou espargata sem ser no dicionário da Porto Editora. Diz que o termo é de origem italiana e sugere spargatta.

Não desisti enquanto não achei a origem da maldita espargata: é de spacatta, que descreve a mesma posição. Fare la spacatta é fazer uma espargata. O verbo é spaccare, que é rachar. Por exemplo, quando um desportista italiano diz ao adversário «ti spacco il culo» quer transmitir a ideia que está a pensar em ganhar.

Spargat também é a 3.ª pessoa do singular do presente do subjuntivo do verbo latim spargare, que pode ser espalhar (as pernas, neste caso). Nunca se sabe."

(artigo publicado no jornal Público, de 4 de Agosto de 2009, na rubrica «Ainda ontem». — 04/08/2009)

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